O Rei Leão (The Lion King, 1994)

Um ciclo sem fim

Assim como Simba, eu era uma criança ao ser apresentado pela primeira vez à Pedra do Rei. Talvez tivesse a mesma idade que o menino sentado ao meu lado, que não parava de falar. Talvez, na época, eu também não parasse de falar. Não me lembro. Foi minha tia quem me levou à primeira sessão de cinema da minha vida. Ela chorou quando Mufasa morreu e eu não entendia muito bem porque. Aliás, no alto de meus três (ou quatro) anos, eu não entendia muita coisa.

17 anos são muito tempo e, novamente como Simba, eu cresci ao voltar à imensidão contemplativa que é o reino dos leões. Cresci tanto, que, à primeira nota do Ciclo Sem Fim, não consegui evitar as lágrimas, que teimaram em escorrer pelos lados dos óculos 3D. Reviver a infância geralmente tem esse efeito. É incrível o poder que as canções possuem no filme. Nenhuma delas é menos que majestosa.

Apesar de estar associado à juventude de muita gente, O Rei Leão não é tanto um filme para crianças quanto a maioria das produções da Disney. Pela primeira vez, um personagem da produtora morria em cena, vítima de uma maquiavélica trama de um membro de sua própria família. Há muito de Shakespeare na história da sucessão de tronos. Também há romance, drama, comédia, épico. Elementos sobrenaturais tomam forma através do macaco Rafiki.

A culpa leva Simba a tentar esquecer o passado. O sol, associado ao ciclo da vida e da morte, não brilha sobre o cinzento reinado de Scar. Todos estão famintos. Simba precisa voltar, para que tudo retorne aos seus eixos. A criança ao meu lado boceja e pergunta para a mãe se o filme já vai acabar. Ela não consegue acompanhar a trama razoavelmente intricada. A criança dentro de mim se sente indignada, mesmo sabendo, bem lá no fundo, que antes também não entendia todas as nuances que faziam de O Rei Leão um dos filmes mais belos da sua geração.

Pode parecer lugar-comum, mas este é um filme totalmente diferente dependendo da idade em que você o assiste. Me parece ainda mais bonito hoje, o que justifica o fato de ser também voltado a um público mais velho.

O 3D é indiferente, não ajuda nem atrapalha. A primeira cena, a mais bela abertura do cinema, encontra um eco interessante na última sequência, quando o ciclo da vida, antes interrompido, é novamente retomado. O ritmo do filme sabe intercalar momentos de tensão com cenas mais descontraídas, muitas vezes engraçadas. Momentos maravilhosos não faltam, e até sobram. Não consigo me lembrar de uma única cena fraca.

Este não é o meu real primeiro contato com o cinema. Me lembro pouco da primeira vez que assisti. O Cão e a Raposa é um filme muito mais representativo do início da minha infância. Mas nenhum me marcou mais do que O Rei Leão, porque foge da ingenuidade geral das animações e parece pensar que crianças podem lidar com assuntos mais sérios, como a morte, a traição e a culpa. Os grandes filmes da Disney também seguiram essa linha de pensamento, que foi reencontrada com sucesso no advento da Pixar.

Percebi que pagaria sem remorso mais ingressos para assistir a história do pequeno leão, que evolui de jovem rebelde a rei. Poderia falar isso de pouquíssimos filmes, que mantiveram seu encantamento até os dias atuais, mesmo com as limitações técnicas que possuíam. O Rei Leão não só faz isso como suplanta todas as animações produzidas atualmente. E não digo isso levianamente, embalado por algum sentimento nostálgico. Digo porque encontrei hoje um filme ainda mais fantástico e vivo do que aquele que havia assistido há 17 anos atrás.

Sobre Leonardo Maran

Fã de quadrinhos, filmes, livros, músicas, peças. Só falta arranjar tempo para tudo isso.

Publicado em agosto 31, 2011, em Uncategorized e marcado como . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

  1. Maria José Maran

    Muito linda a lembrança do Leonardo. Eu sou a tia que o apresentou ao cimena, ao Rei Leão. Ficamos em uma fila enorme para comprar os ingressos e aguardamos sentados no chão para entrar na sala, cerca de 3 horas, para conseguir ficar em um bom lugar! Chorei bastante quando Mufasa morreu e o Leonardo me perguntou bem alto “você estå chorando, tia Maria?”. Acho que muitas pessoas ouviram…

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